História de um casamento: quando só os sonhos de um avança, o outro cai.

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Escrito e dirigido por Noah Baumbach (roteirista do clássico cult ‘Fraces Ha’, 2012), A História de um Casamento (2019) coloca no mesmo nível dos filmes de festivais, a “categoria” de filmes de streaming. E não era de esperar menos, levando em consideração a leveza vs. retórica pesada em que o diretor costuma abordar o desenvolvimento dos personagens em seus filmes. Nesse caso, são os olhares mais atentos de quem vive ou já viveu a dinâmica do casamento, e quais as definições dos papéis sociais dentro dessa instituição, que se reconhecerá em um dos personagens. Sempre há o lado que tenta equilibrar a balança e o lado das vontades/ascensão urgentes, normalmente respectivas à função de esposa/marido.

É lindo ver a crescente da personagem de Scarlett Johansson, Nicole. Ela é apoiada, mas não conduzida, por outras mulheres, que por coincidência ou não passaram pelo mesmo: ser uma mãe perfeita, a parceira que sempre apoia o marido, mas ao invés de dividir o holofote e crescer junto, vive atrás de uma função social que sufoca qualquer resquício de talento, vontade e crescimento. É como se essa existência só houvesse para o apoio do masculino, nunca em função própria.

Não é a toa que o personagem de Adam Driver, Charlie, encanta no seu discurso de abertura, mas no decorrer aquele cara ‘boa praça’ não passa de um egoísta, que tenta resolver os problemas com um band-aid. Do tipo que justifica traição com frases “nós não transávamos mais”. Gentilezas no trabalho e afeto com a família de Nicole, só parece normalizar o que toda mulher precisa aceitar numa vida a dois: a invisibilidade. Charlie é o retrato do homem moderno e sua teimosia em simplesmente dividir o holofote com a esposa, a máxima do ditado machista “Por trás de um grande homem, haverá sempre uma grande mulher”. O problema é que ninguém nos perguntou se era isso que queríamos, apenas aceitamos. Assim como Somos ensinadas a esperar , desde o ventre, do pai ao marido, esperamos, assim como Colette Dowling, falou no livro de 1982, Complexo de Cinderela, “a mulher é marcada pelo estabelecimento da ordem patriarcal, ensinadas a crer que, algum dia, de algum modo, serão salvas”. Até que a ficha cai e vem a tona o que sempre fora óbvio: quem espera desespera.

Carregados de monólogos potentes, e com atuações brilhantes, cada personagem mulher tem algo a dizer e um discurso que é impossível, repito: é impossível, não haver sequer alguma identificação com alguma delas – do figurino aos trejeitos. A História de um casamento é um forte candidato ao Oscar, tradicional, higienizado, mas lindo (como a academia gosta). E, apesar de uma direção masculina abordando tanto os desenvolvimentos femininos, talvez tenha sido exatamente isso que trouxe verossimilhança para o filme: falar da mulher e do casamento através do seu local de fala e finalmente “deixando” brilhar quem tanto apoiou e esperou.

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Ariana, formada em marketing e em cinema, é dona de vários apelidos, acredita que foi abençoada com um grande coração e em contrapartida um pavio bem curto. Sua melhor definição são os excessos.

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