Valerian e a cidade dos mil planetas: o filme mais caro da França, e a tentativa de ser um clássico Sci-fi

Vinte anos depois do lançamento de O Quinto elemento, Luc Besson é o responsável por, além de adaptar a série de quadrinhos mais famosa da Europa no final dos anos 60, conduzir o orçamento mais caro da história da França. Foram cerca de 197,47 milhões de euros (cerca de US$ 210 milhões). É praticamente o dobro do valor do filme com o segundo orçamento mais caro.

Aqui, ele cria uma imensidão de criaturas e planetas vivendo em “total” harmonia. A equipe técnica é de extrema competência e, vale salientar, 100% francesa. Ou seja, é possível fazer uma superprodução sci-fi longe dos grandes estúdios de Hollywood. Porém, apesar da excelência criativa, o excesso e necessidade de impressionar, e de mostrar toda essa excelência imagética, termina deixando o roteiro em segundo plano, escrito sozinho por ele.

Outro ponto negativo são as escolhas dos personagens principais. Eles parecem ter sido escolhas comerciais, colocando um risco muito grande em levar um possível clássico de ficção científica a um blockbuster infantojuvenil. Mas o lado positivo é que há sempre uma preocupação de tempo de tela entre o casal protagonista.

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Dane DeHaan e Cara Delevingne 

No início da trama tive um medo absurdo de encontrar uma narrativa de filme de herói que conta a história das grandes ações e sacrifícios do personagem principal + namoradaindefesaprecisandoderesgate. Infelizmente, essa receita deu muito certo ao longo dos anos na história do cinema.

Porém, já há alguns anos que essa realidade vem mudando. No Sci-fi, apesar de termos grandes personagens mulheres no papel de heroínas, boa parte delas ainda carrega esteriótipos desnecessários para a construção de representatividade. Por ser um gênero muito dominado por homens, em sua criação, é comum que as mulheres sejam expostas ao olhar de quem criou a personagem.

Porém, Luc Besson sempre construiu personagens femininas de guerrilhas, complexas e com bastante personalidade própria. Que é o caso de Laureline (Cara Delevingne). Ela é uma personagem leal ao seu parceiro de trabalho, mas toma suas próprias decisões e não cai no esteriótipo de que mulher forte é necessariamente uma mulher sem sentimentos.

Confesso que uma atriz um pouco mais velha, com um pouco mais de experiência e diálogos mais bem elaborados, talvez trouxesse ao filme uma sinergia melhor entre a protagonista e o seu papel alí em desempenho. Afinal, o universo está nas mãos da dupla. O Mesmo acontece com Valerian (Dane DeHaan). Ao interpretar um major galanteador e focar praticamente metade, ou mais, do seu diálogo com a sua parceira na tentativa de convencê-la a se casar com ele, faz o verdadeiro conflito do filme, o conflito central, se perder.

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Planeta Mül

Enfim, comparo Valerian e a Cidade dos Mil Planetas a Cloud Atlas, um filme dos irmãos Wachowski (Matrix). Ele tem um propósito sensacional, mas com falhas na execução que prejudicam a narrativa.

Ou seja, é necessário um pequeno exercício mental para acompanhar todo o excesso de informação. Contudo, no final vale a pena. Afinal, ele proporciona algumas risadas, momentos de escapismo e um presente em relação à qualidade das imagens e cores. É de fazer com que os Bessinianos saiam da sala de cinema aplaudindo. O filme ainda funciona como aventura, romance, fantasia e ação. Só não funciona como um clássico do Sci-fi. E muito provavelmente não terá a dimensão e retorno financeiro projetado para ele, assim como Cloud atlas.

cacau

Ariana, formada em marketing e em cinema, é dona de vários apelidos, acredita que foi abençoada com um grande coração e em contrapartida um pavio bem curto. Sua melhor definição são os excessos.

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