Coringa: narcisista, sintomático e fraudulento

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Para um espectador latino americano, que segue com bastante influência dos pólos políticos, seja ele qual for, ao se relacionar com alguma experiência derivada da arte, nesse caso o cinema, a fruição do filme ganha a mesma força política que se reconhece em quem assiste. Ou seja, o mais recente projeto de Todd Phillips (Se beber não case, Cães de guerra…), Coringa, 2019, aprende a surfar nessa onda e faz com que o espectador ache que está sendo representado, quando na verdade ele não está. Ele está sendo aguçado à vibração dos tempos modernos e suas polaridades maniqueísta. É necessário registrar que além de beber na fonte coercitiva do cinema militante, aquele que muitas vezes propõe os caminhos que a realidade deveria percorrer/ser, dando ao espectador além da vara de pescar, o peixe, falta o subjetivo: propor dúvidas ao invés de soluções.

Todos os quadros funcionam para exaltar o belo do grotesco, o que seria muito válido, se fosse uma visão sincera e contemplativa, de desconstrução. Além de ser uma fórmula usada a exaustão na história do cinema. Vá de Freaks (1932), de Tod Browning, aos filmes pós era de ouro de Hollywood, realizados entre o final de 1960 até meados da década de 80, período de início de ascensão dos blockbusters, são praticamente todos assim. A subversão do protagonista e o desencaixe dos padrões é o seu grande trufo, o famoso “anti-herói” e isso é exatamente o que há neste filme de origem. Ele não embeleza o grotesco, ele está nos dizendo nas entrelinhas que o esquisito é realmente esquisito, é mau. O quartel general da indústria cinematográfica americana, Hollywood, mergulha nas suas referências com tamanha presunção que desqualifica o conhecimento do espectador para com a história do cinema. Todd Phillips traz muito mais do mesmo ao confirmar toda essa influência com as menções ao filmes de Scorsese. Não é uma homenagem, é quase plágio (e olhe que eu não quero nem citar a representação de De Niro no filme). É o novo Tarantino elevando a imagem artista norte-americano a condição de autor revolucionário, fechando os olhos para sua obra, que se sustenta inteiramente nas referências travestida de homenagens.

No mais, Coringa funciona como um suspense psicológico que aponta o dedo do “certo” e “errado” de maneira torpe, reforçando os problemas já existentes na sociedade, deixando de desenvolver personagens super importantes (que iriam compor voz e representatividade). Todas as personagens mulheres do filme, por exemplo, só tem como função explorar o desenvolvimento do personagem. Em nenhum momento há uma mulher com voz ou protagonismo. Todas as personagens mulheres do filme, por exemplo, só tem como função explorar o desenvolvimento do personagem. Em nenhum momento há uma mulher com voz ou protagonismo. No final das contas Coringa, 2019, soa como um homem branco cis falando de racismo reverso velado sob uma atuação de destaque.

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Ariana, formada em marketing e em cinema, é dona de vários apelidos, acredita que foi abençoada com um grande coração e em contrapartida um pavio bem curto. Sua melhor definição são os excessos.

One thought on “Coringa: narcisista, sintomático e fraudulento

  1. Gostei da crítica. Assisti ao filme mas não me impressionou além da boa atuação de Joaquim Phoenix e da estética visual, paleta de cores etc. A ultima frase de seu texto me lembrou a resposta de Inarritu ao compararem o filme dele, Babel, com Crash de Haggis. “Por favor não compare meu filme com Crash. Crash é um filme racista sobre racismo.”

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