“Elvis” é enérgico, compulsivo e propositalmente sexy

Enérgico, delirante e compulsivo, “Elvis”, de Baz Luhrmann, é intencionalmente sexy.

Foto: Divulgação/Warner Bros

Após quase dez anos em hiato, Baz Luhrmann (Moulin Rouge, 2001), diretor de “Elvis”, reaparece com o mesmo charme e assinatura fílmica comum ao seu trabalho. É possível reconhecer sua assinatura tanto nos closes, quanto nas movimentações de câmera — muitas vezes em um tom mais brusco, mas sempre lúdico.  

Luhrmann, assim como sua filmografia, possui um jeito próprio de contar histórias e pode dividir a opinião dos espectadores, uns amam, outros odeiam. Porém, uma coisa é unanimidade: ele sabe contar uma história e não tem medo de fazer isso pela perspectiva do antagonista, aqui no papel do Coronel Tom Parker (Tom Hanks). A escolha, que parece ousada, traz um tom cartunesco para o personagem e nos distancia de uma possível responsabilização ética, social e racial, das polêmicas que poderiam ser destinadas ao Rei do Rock (?). Afinal, Elvis é mostrado a partir de uma ótica alheia e, consequentemente, ganha uma passividade capaz de presenteá-lo com o benefício da dúvida. 

Uma perspectiva ousada

elvis tom parker por tom hanks
Foto: Divulgação/Warner Bros

Outro ponto positivo da escolha da perspectiva, é o tom cartunesco citado acima, que vilaniza o personagem e coloca Elvis (Austin Butler) em contrapartida. Ou seja, desde o primeiro frame a gente já sabe que a história escolheu mostrar as ações do cantor, por mais duvidosas que tenham sido, sem assumir a discussão de certo ou errado. Se Elvis foi ou não alguém que se apropriou da música negra, ou alguém que abriu caminho para outros artistas da época, isso cabe ao espectador definir e debater. Uma maneira, um tanto inteligente, que o diretor e também roteirista encontrou de se aproveitar da polarização comum aos dias atuais. Ele sabe onde encontrar a pólvora que os millennials precisam para queimar nas redes sociais. 

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Vale a pena assistir “Elvis”?

Além do universo que flerta com o lúdico e que sabe criar uma polêmica, está Austin Butler, intérprete de Elvis, e a montagem. Uma atuação completa, digna de indicação ao Oscar, reforçada por uma montagem que ativamente induz a comparação. Os cortes são precisos e faz você se questionar se aquela cena é uma reprodução do filme ou uma inserção de imagens de arquivos. Mais uma vez é possível reconhecer a direção de Luhrmann conduzindo cada ponto da narrativa e entendendo principalmente para quem o filme é destinado. 

Por fim, é mais uma obra muito bem sucedida do diretor, que poucas vezes deixou a desejar, e um excelente filme para se intrigar. Um exemplar que possui vida própria e reacende questões polêmicas sobre a vida do cantor. Sabendo exatamente o caminho que quer percorrer, você será conduzido às emoções mais tradicionais do cinema e ainda terá a animação e energia da construção de um Elvis ‘bom moço’ e propositalmente sexy

cacau

Ariana, formada em marketing e em cinema, é dona de vários apelidos, acredita que foi abençoada com um grande coração e em contrapartida um pavio bem curto. Sua melhor definição são os excessos.

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