Cruella é um espetáculo de figurino e trilha sonora

Cruella de Vil, personagem que se originou no livro de Dodie Smith “The Hundred and One Dalmatians”, foi dublada por Betty Lou Gerson na animação da Disney, “101 Dalmátas” (1961) e anos mais tarde, interpretada por Glenn Close no live-action de 1996, bem como na sequência 102 Dálmatas (2000).

Cruella de Vil, personagem que se originou no livro de Dodie Smith “The Hundred and One Dalmatians”, foi dublada por Betty Lou Gerson na animação da Disney, “101 Dalmátas” (1961) e anos mais tarde, interpretada por Glenn Close no live-action de 1996, bem como na sequência 102 Dálmatas (2000). Seguindo a agenda de live-action da Disney com aposta em filmes de origem, Cruella, dirigido por Craig Gillespie (Eu, Tonya, Horas Decisivas…) faz apostas seguras, com bons acertos. Investe alto na trilha sonora e no firurino mas, por ser um filme com classificação indicativa PG-13 (indica que algum material pode ser inapropriado para crianças com idade inferior a 13 anos, sendo recomendado o acompanhamento dos pais) não explora questões que transformaram a famosa estilista na icônica vilã devoradora de filhotes. Apesar disso, faz-se importante destacar que a classificação indicativa de Cruella é a mais alta de toda franquia.

As narrativas “de origem” já se tonaram habituais no universo dos super-heróis e das animações Disney. No entanto, a história de como Estella vai se transformar em Cruella de Vil e todo fervor punk que implode a Londres de 1979 merece ser vista. Estella é uma garota jovem, com muita vida e empoderada de uma personalidade única. É uma garota com poucas inseguranças. Inclusive, já começa a se enganar aqui quem imagina que esses atributos são indícios de uma suposta psicopatia da vilã. Aliás, o longa não apresenta Estella, que se tornará Cruella, como uma vilã mas uma anti-heroína. O diretor Craig Gillespie, que já havia trabalhado com o arquétipo do anti-herói em “Eu, Tonya”, disse em uma entrevista à Veja que esse perfil de personagem encanta-o.

Passei toda a filmagem esperando alguém me ligar e dizer: “O.k., agora você foi longe demais”. Mas não aconteceu. Fiz Eu, Tonya e agora Cruella porque anti-heroínas me encantam, e me contrataram por isso. Para minha sorte, Emma Stone brilha como mocinha ou vilã.

Personalidade Reprimida

Ainda segundo o diretor, “Cruella é uma pessoa talentosa e impetuosa, que foi reprimida quando criança por não se adequar ao comportamento dito ‘normal’.” E é nesse ponto que a personagem cresce. Há uma criança super talentosa mas que precisa enfrentar uma sociedade tradicional que costuma dizer os locais que as meninas e mulheres devem ocupar. É aquela narrativa que boa parte de nós conhecemos e enfrentamos desde sempre. A história de Cruella é atual, pertinente e demanda coragem, já que para se ‘assumir’ você precisa de fato encarar todos os dedos apontando para você.

As comparações com o Coringa de Joaquin Phoenix são inevitáveis. No entanto, diferente de Arthur Fleck, que encontra no sistema seu grande opositor, ao passar dos anos Cruella entende de uma vez quem ela é e seu opositor passa a ser um outro personagem. Também ao longo do seu desenvolvimento, as ações dela sempre são explicadas ou até mesmo reduzidas, de certa forma, para se encaixar no limite do compreensível. Há o ‘politicamente correto’ que não teve no Coringa de Todd Phillips. O que tira um pouco o poder de identificação do espectador e o peso do filme mas, ao mesmo tempo, traz um embate narrativo, uma dinâmica de ‘gato e rato’ divertida e que justifica o lado mais lúdico e até mesmo infantil, muito provavelmente uma exigência da Disney.

Figurino

Sem dúvida nenhuma os pontos altos do live-action é o figurino e a trilha sonora. Ambos têm uma energia absurda, transgressão e ainda encontram um feliz contraponto com o punk entre eles. Mas nada disso é aleatório. Pos trás de toda imposição da personagem, há um nome de peso: Jenny Beavan. Jenny possui dois Oscars na carreira, ambos na categoria de Melhor Figurino nos filmes Mad Max: Estrada da Fúria (2015) e Uma Janela para o Amor (1985). O único problema que a gente encontra na evolução de figurino está no roteiro, entre a transição de Estella para Cruella. Em síntese, mesmo após a passagem do primeiro para o segundo ato e a sugestão de evolução da personagem assumindo alter ego, ela transita nesses “Eu’s” com facilidade. É uma metaliguagem, um personagem para um personagem.

Trilha Sonora

Já em relação ao som do filme, desde que a gente viu o trailer com “These Boots Are Made for Walkin”, de Nancy Sinatra, ficou claro que a trilha sonora de Cruella seria marcante. E também não é a toa. A trilha sonora aqui é assinada por Nicholas Britell, um dos compositores mais bem conceituados do mercado Hollywoodiano. Britell assinou as trilhas de filmes como “Se a rua Neale Falasse”, “Vice”, “Moonlight: Sob a luz do luar”, “A grande Aposta” e outros… Aqui ele reúne músicas memoráveis e que conversam muito mais com públicos de outras gerações. O longa traz canções como “Whole Lotta Love“, de Ike & Tina Turner, “One Way or Another“, da Blondie, além de outros clássicos de artistas como Deep Purple, Bee Gees, Nina Simone, The Clash e Sex Pistols.

Cruella de Vil vira Cinderela punk em novo filme da Disney | VEJA

Cruella flerta com diversos assuntos que poderia ser abordado com maior profundidade. Porém, o foco do filme não é se debruçar em uma narrativa que inspire debates mas entreter e ofuscar a todos com o espetáculo dos trajes e do design de produção.

Vale a pena?

Os personagens servem de apoio para Cruella brilhar, inclusive a Baronesa, antagonista vivida por Emma Thompson. A baronesa, que muitos poderiam associar ao oposto da personagem de Stone, é uma referência a Cruella da animação de 1961 e uma previsão do que virá a se tornar a atual. Em resumo, se você for de coração aberto, sem muitas expectativas em relação ao roteiro e à narrativa, se surpreenderá. Cruella merece muito ser visto, principalmente por todas as referências que reúne, desde o figurino e trilha que foram citados aqui assim como várias outras à cultura pop e a outros filmes que também apostam em alguns atributos de moda, como O Diabo Veste Prada, Jogos Vorazes, Arlequina, Malévola e tantos outros. Cruella veio reivindicar um espaço de destaque na seara das adaptações Disney e parece que vai conseguir.

cacau

Ariana, formada em marketing e em cinema, é dona de vários apelidos, acredita que foi abençoada com um grande coração e em contrapartida um pavio bem curto. Sua melhor definição são os excessos.

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

Next Post

Maligno faz referência ao cinema de Dario Argento com plot absurdamente ridículo

Seg Set 13 , 2021
A trama de Maligno (2021), dirigido por James Wan, segue Madison Mitchell (Annabelle Wallis), que após alguns infortúnios passa a ter visões aterrorizantes de crimes brutais. O mais assustador e misterioso, é que esses crimes realmente estão acontecendo. Para entender sua ligação psíquica com os crimes, Madison precisará reviver questões deixadas para trás sobre o seu passado.

Você pode gostar