Marighella tem execução didática e confusa

O longa Marighella é baseado no livro de Mário Magalhães, chamado Marighella: O guerrilheiro que incendiou o mundo e conta a história de Carlos Marighella, um ex-deputado e poeta, que foi assassinado no ano de 1969 pelo regime militar no Brasil. Carlos foi considerado um dos maiores pensadores da época e líderes do regime contra a ditadura e a favor da democracia brasileira.

O longa Marighella marca a estreia do ator Wagner Moura na direção. 

CRÍTICA: Marighella: Filme de Wagner Moura é grito de guerra contra  ditadura e barbárie - Notícias - BCharts Fórum
Seu Jorge interpreta o ex deputado e militante Carlos Marighella

O filme, que tem em sua estreia na direção o ator Wagner Moura e é protagonizado pelo cantor Seu Jorge e desde as suas primeiras cenas já deixa claro para que veio: é um filme de ação e que sabe exatamente qual lado da história apoiar – isso é observado desde os primeiros inserts com cenas onde ratificam o apoio dos Estados Unidos na tomada do poder, em 1964, no governo do ex presidente João Goulart, mais conhecido como Jango. Com as escolhas das músicas, reafirmado pelo som de Chico Science e pela força que o povo nordestino traz em tudo que costuma fazer. As cenas, pra mim, funcionam como um grande grito de ‘somos resistência’. Até aí tudo bem. Foi esclarecido que caminho o filme iria tomar. 

Influência estética

Mas, no geral, no decorrer do longa, há uma grande confusão sobre o que a narrativa deve priorizar: o desenvolvimento de um personagem que é capaz de marcar um período histórico (como por exemplo, o Capitão Nascimento) e a reconstituição dos horrores do período da ditadura. Eu entendo que caberiam vários filmes no que Marighella apresenta, mas ao analisar o que é proposto, infelizmente, eu vejo muito mais de uma colcha de retalhos do que autoralidade, propriamente dita. 

Exemplo, o filme praticamente inteiro é gravação com a câmera na mão e uma alternância grande entre close e plano aberto. Ou: close, close, close, plano aberto. É uma dinâmica simples: para ambientar o espectador o uso o plano aberto e para chocar, trazer emoção e força, close. O que até funciona, mas se torna cansativo e lembro MUITO o cinema de José Padilha, que tem essa marca em sua autoralidade. E aí vale um adendo: Não é que Mariguela não tenha autoria, tem! É um filme muito pessoal do diretor, mas em sua forma, a autoralidade está fadada às suas referências e nesse caso, ao cinema de José Padilha. E quando eu falo de autoralidade eu tô falando de cinema de autor, que veio lá da Nouvelle Vague.

Mas afinal, Marighella vale a pena?

É como se o Wagner usasse toda sua experiência e seus aprendizados como ator, nesse filme. O que faz todo sentido, porém, com um filme com todo esse contexto histórico e força, a gente espera que tenha uma direção mais acertada, mais carregada de elementos criativos, ao invés do didático. Vale salientar também, que muito provavelmente as escolhas mais seguras na direção pode ter sido para que o filme atingisse mais pessoas. Afinal, quanto mais didático você é em uma construção de narrativa, mais pessoas você atinge. Como uma novela, por exemplo. E levando em consideração o país que a gente vive, as dificuldades educacionais e que consequentemente muita gente pode não conhecer ou ter uma ideia errada de quem foi Carlos Marighella, o mais seguro seria apostar no que funciona.

Ou seja, cinematograficamente falando, eu sinto que o filme poderia ainda ter mais força se ousasse mais. Se fosse mais seguro em relação as definições de cena, e com isso eu quero dizer: escolha os seus finais. Pra mim, Mariguella tem muitos finais. Inclusive, finais que reforçam toda a ideia que o filme passou e consequentemente se torna redundante. No entanto, analisando o filme pelo que ele é e supondo que a ideia da direção era atingir mais pessoas, sim, ele cumpre o que se propõe. Para completar a experiência, leia o texto Qual é a cara do cinema nacional e veja o vídeo abaixo:

cacau

Ariana, formada em marketing e em cinema, é dona de vários apelidos, acredita que foi abençoada com um grande coração e em contrapartida um pavio bem curto. Sua melhor definição são os excessos.

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