Mulher-Maravilha: a missão que vai além dos créditos

É através do amor, do senso de justiça, honra e altruísmo que Diana constrói sua jornada. Uma mulher que suas características interiores não só a complementam como pessoa, mas definem suas ações, porém, é importante refletir que ela não cresceu na nossa sociedade. Uma sociedade que impõe regras, padrões de beleza e papéis de gênero. Talvez, essa ausência seja o principal aliado na construção de uma mulher forte e segura de si. Ela tem seus companheiros de batalha e trabalha junto com eles, mas toma suas próprias decisões.

Gal Gadot em “Wonder Woman”, dirigida por Patty Jenkins.


Demorou, mas a DC Comics apostou certo em realizar um filme solo da Mulher-maravilha. Já faz alguns anos que acompanhamos vários rumores sobre as possíveis produções dos filmes oriundos dos quadrinhos protagonizados por mulheres, mas nada de concreto até pouco tempo atrás. Aliás, em 2004, tivemos Elektra. Porém, nessa época os filmes desse universo não tinham tanto peso quanto hoje em dia. Infelizmente. Ainda nessa corrida Marvel vs DC = Eterna briga e rumores de próximos filmes, confesso que acreditava na Marvel lançando primeiro um filme origem sobre Natasha Romanoff, a viúva negra. Afinal, a ela é tão importante quanto os outros vingadores, certo?! Parece que não! Mas, isso é assunto para outro texto. Segue o baile…

Diane Prince no Louvre, em Paris.

O filme começa com um breve prólogo na Paris moderna tomada por um ar de mistério, em seguida, em seu escritório no Louvre, Diana recebe uma encomenda de Bruce Wayne. Esse tom misterioso, levemente sombrio e curioso é intensificado pela trilha, composta por Rupert Gregson-Williams. A partir das lembranças do alter ego da nossa heroína somos transportados para Themyscira, quando Diana ainda era uma criança que sonhava em se tornar uma guerreira. Porém, sempre encontrava barreiras nas ordens da sua mãe (Connie Nielsen), que por sua vez, tinha medo que ao ser treinada fosse se colocar em perigo. Mesmo assim, Diana começa a treinar escondido com a sua tia (Robin Wright). É graças a esse treinamento que Diana desenvolve/descobre sua força, e após um pequeno acidente em um dos treinamentos, vê quando Steve Trevor (Chris Pine) ultrapassa a barreira escondida para Themyscira, em uma queda de avião, e cai no mar.

Nessa altura do filme já estamos sendo bombardeados com closes em câmera lenta, que valorizam as cenas de luta entre as mulheres. É de arrepiar a espinha, principalmente se você for mulher e cresceu nos anos 90 órfã de representatividade feminina. As cenas das amazonas são uma ode à nós, mulheres fortes e guerreiras. As cenas têm um poder incrível! [PAUSA PARA RECADO] Se você for averso ao feminismo aconselho parar com a leitura e só continuar depois de ler isso aqui, ok?! VOLTANDO: […]O primeiro contato de Diana com os homens é um desses momentos, incrédula das atrocidades que o bicho comete, Diana acredita que o responsável por trás de todo o mal cometido por nós é o Deus da guerra, Ares, e resolve partir ao encontro dele com Steve Trevor.

E é a partir da relação dos dois que o filme começa a ganhar humor, mas não tenham medo, o humor aqui é dosado, calcado na ingenuidade da protagonista, diferente do humor plantado nos filmes da rival da DC, a Marvel, que boa parte das vezes apela pra um humor sarcástico.

A relação dos protagonistas, Diana e Steve, tem química desde o primeiro encontro, porém, a atuação de Chris Pine se revela mais convincente que a de Gal Gadot. No entanto, Gadot convence quando entrega suavidade e determinação na personalidade da personagem e nos mostra que a escolha dela para esse papel foi mais do que acertada. Esse “simples” fato, da personagem ter suavidade na personalidade (claro que ela tem outras características também) é o que afasta Diana do esteriótipo de que toda mulher para ser forte tem que ser fria, não cultivar sentimentos. Felizmente esse esteriótipo é quebrado no filme.

É através do amor, do senso de justiça, honra e altruísmo que Diana constrói sua jornada (Beeem Joseph Campbell, A jornada do Herói). Ela é uma mulher que suas características interiores não só a complementam como pessoa, mas definem suas ações, porém, é importante refletir que ela não cresceu na nossa sociedade. Uma sociedade que impõe regras, padrões de beleza e papéis de gênero. Talvez, essa ausência seja o principal aliado na construção de uma mulher forte e segura de si. Ela tem seus companheiros de batalha e trabalha junto com eles, mas toma suas próprias decisões.

Como nem tudo que reluz é ouro, apesar do filme ser considerado um ponto de virada no mercado cinematográfico atual, o roteiro tem falhas de construção. Existe uma crescente contínua até mais ou menos o final do segundo ato, depois disso, começa a se tornar previsível e o conflito central beira o clichê. O plot twist que poderia nos surpreender não é tão forte e infelizmente os vilões, mesmo com potencial para serem melhores desenvolvidos, não são. Muito provavelmente por ser um filme de origem e o foco ser no mundo mítico e em toda a história de Diana, e nessas questões a entrega foi louvável. Apesar dos defeitos, mulher maravilha é um blockbuster que foi bem executado e funciona como filme de ação, aventura e até mesmo romance. Mas principalmente, o filme carrega um peso social baseado na desconstrução dos esteriótipos de gênero no cinema. É um filme que chegou pra mudar conceitos em Hollywood.

Danny Huston, General Erich Luddendorff.

Não acredita? Desde a sua estréia mundial, em Junho/2017, Wonder Woman vem batendo recordes e é o filme de super-herói que melhor se manteve nas bilheterias norte-americanas desde 2002. A produção já arrecadou US$ 750 milhões nas bilheterias ao redor do mundo, e a expectativa é que, apenas no mercado americano, alcance US$ 390 milhões. Lembrando que o orçamento do filme foi de US$ 150 milhões. Inclusive o próprio Deadpool já mandou o seu recado. Veja:

Imagem publicada por Ryan Reynolds no Instagram celebra vitória de ‘Mulher-Maravilha’ nas bilheterias com a seguinte legenda: “O Mercenário pode ser mais sujo, mas a bilheteria dela é mais forte. Parabéns #MulherMaravilha”.

Aqui no Brasil, o longa já foi visto por mais de 5,7 milhões de pessoas e vem derrotando os oponentes para se manter na liderança do ranking de bilheteria pela quarta vez, neste fim de semana. Desde sua estréia, acumula um rendimento de quase R$ 90 milhões, segundo dados da empresa de monitoramento ComScore. Impressionante, não é mesmo?!

E se esses dados não significam nada pra você. Bom, dizem que uma imagem fala mais do que mil palavras…

cacau

Ariana, formada em marketing e em cinema, é dona de vários apelidos, acredita que foi abençoada com um grande coração e em contrapartida um pavio bem curto. Sua melhor definição são os excessos.

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