Rede de ódio e as ferramentas de um sociopata

Rede de Ódio é um filme de thriller e drama polonês de 2020, produzido pela Naima Film, TVN e Canal + Polska, cujos direitos foram adquiridos pela Netflix. Dirigido por Jan Komasa e escrito por Mateusz Pacewicz, dupla premiada que já havia demonstrado uma boa sintonia de criação e direção no filme Corpus Christi (2019), indicado ao Oscar 2020 de melhor filme internacional, repete aqui a mesma tensão atmosférica que faz o espectador segurar o fôlego na frente da tela. Com um tema deveras atual e relevante, a produção aborda os perigos das redes sociais na atualidade e a disseminação profissional de fake news.

O protagonista Tomasz (Maciej Musiałowski) é apresentado ao público logo após ser pego em um delito na faculdade, em Varsóvia, cuja consequencia é sua expulsão, e, em um ato de desespero, procura se infiltrar em uma agência de publicidade especializada na criação de trolls. Aos poucos, ele vai ganhando espaço e confiança no local, mas também mergulha num círculo profundo de ausência de sentimentos. É como se, para ele, as próprias emoções fossem uma extensão das ferramentas de ‘cancelamento’ de políticos e subcelebridades. Desaguar nesse mundo cobra um preço alto, e Tomasz sabe disso. Ele não só reconhece que o mundo virtual é uma extensão do real, como usa disso de forma deliberada como meios para conseguir o que deseja é uma informação que parece desconhecida para Tomasz, mesmo que ele continua com suas criminosas de forma deliberada.

Rede de Ódio, filme polonês disponível na Netflix
Divulgação

Talvez a assertividade do roteiro e da direção se dê pela clareza e possibilidades de extremo perigo em que encara os acontecimento incitantes do filme, pois, de fato, nenhum outro mostra tal evolução com tamanha perspicácia: cada ato funciona como um prefácio do próximo, até o ápice. Tal evolução não acontece só na trama, mas também no desenvolvimento do personagem, que vai tomando ‘corpo’ e assumindo cada vez mais sua personalidade.

É importante perceber que Tomasz não é um retrato amargurado que depois de um fora cria uma rede social. Sim, há muita amargura aqui, mas também há a consciência de que o poder da internet da mesma forma que constrói uma imagem, é capaz de destruir essa mesma imagem em cerca de horas. Pior: o poder oriundo das fakenews é capaz de nutrir um ódio tão latente e obscuro que movimenta pessoas para além do virtual ao discurso de ódio e à violência, e, apesar dessa informação não ser novidade, observar que na trama não há personagens positivos guiados por motivos nobres funciona como seu diferencial. Afinal, na narritiva mais tradicional do cinema, estamos acostumados a reconhecer os vilões e mocinhos. Porém, com um tema tão pertinente sentimos falta de uma abordagem macro, já que o tema abre diversos assuntos relevantes: política, declarações sobre nacionalismo, luta de classes, privacidade, manipulação entre outras…

Veja o trailer!

https://youtu.be/8vtU1Oikx84

Ficha Técnica:

Ano: 2020
Duração: 135 min.
País: Polônia
Diretor: Jan Komasa
Roteiro: Mateusz Pacewicz
Fotografia: Radosław Ładczuk
Música: Michal Jacaszek
Gênero: Drama.
Distribuidor: Netflix

cacau

Ariana, formada em marketing e em cinema, é dona de vários apelidos, acredita que foi abençoada com um grande coração e em contrapartida um pavio bem curto. Sua melhor definição são os excessos.

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